quarta-feira, 19 de março de 2014

Reflexão necessária

Sem medo de ser sozinho - Regina Navarro Lins
A maioria das pessoas acredita que quem não tem um par amoroso no final do ano fica triste. Na nossa cultura, há a crença de que só é possível encontrar a realização afetiva através da relação amorosa fixa e estável com uma única pessoa. A propaganda a favor é tão poderosa que a busca da “outra metade” se torna incessante e muitas vezes desesperada.
E quando surge um parceiro disposto a alimentar esse sonho, pronto: além de se inventar uma pessoa, atribuindo a ela características que geralmente não possui, se abdica facilmente de coisas importantes, imaginando que, agora, nada mais vai faltar. E o mais grave: com o tempo passa a ser fundamental continuar tendo alguém ao lado, pagando-se qualquer preço, mesmo quando predominam as frustrações. Não ter um par significaria não estar inteiro, ser incompleto, ou seja, totalmente desamparado. Mas de onde vem essa ideia?
Na fusão com a mãe no útero, experimentamos a sensação de plenitude, bruscamente interrompida com o nascimento. A partir daí, o anseio amoroso parece ser o de recuperar a harmonia perdida. A criança, então, dirige intensamente para a mãe sua busca de aconchego. No Ocidente aprendemos que, na vida adulta, somente através do convívio amoroso com outra pessoa nos sentiremos completos. Quem, além do ser amado, pode suprir nossas carências e nos tornar inteiros? Aí é que entra o amor romântico, que promete o encontro de almas e a fusão dos amantes, acenando com a possibilidade de transformar dois num só, da mesma forma que na fusão original com a mãe.
O único problema é que tudo não passa de uma ilusão. Na realidade, ninguém completa ninguém. Mas, ignorando isso, reeditamos inconscientemente com o parceiro nossas necessidades infantis. O outro se torna tão indispensável para nossa sobrevivência emocional, que a possessividade e o cerceamento da liberdade sobrecarregam a relação. Por mais encantamento e exaltação que o amor romântico cause num primeiro momento, ele se torna opressivo por se opor à nossa individualidade.
Entretanto, vivemos um período de grandes transformações no mundo e, no que diz respeito ao amor, observamos que o dilema cada vez mais se situa entre o desejo de simbiose e o desejo de liberdade, sendo que este último começa a predominar. Um sinal disso talvez seja o interesse por práticas orientais como meditação transcendental, ioga, tai chi chuan, entre outras. Enquanto tentamos nos sentir inteiros, dependendo de algo externo a nós — a relação amorosa com outra pessoa —, os orientais se voltam para dentro de si mesmos, buscando assim encontrar a sensação de estar completos.
Não é fácil deixar o hábito de formar um par. Fomos condicionados a desejá-lo, convencidos de que se trata de pré-requisito para a felicidade. Para complicar mais as coisas, há ainda os que, por equívoco ou pela própria limitação, se utilizam de argumentos psicológicos para não deixar ninguém escapar dos modelos. Para esses, maturidade emocional implica manter uma relação amorosa estável com alguém do sexo oposto. Não faltam terapeutas para reforçar esse absurdo na cabeça de seus pacientes. E o pior é que eles acreditam e sofrem bastante, se sentindo defeituosos ou no mínimo incompetentes por não terem alguém.
Contudo, a condição essencial para ficar bem sozinho é o exercício da autonomia pessoal. Isso significa, além de alcançar nova visão do amor e do sexo, se libertar da dependência amorosa exclusiva e “salvadora” de alguém. O caminho fica livre para um relacionamento mais profundo com os amigos, com crescimento da importância dos laços afetivos. É com o desenvolvimento individual que se processa a mudança interna necessária para a percepção das próprias singularidades e do prazer de estar só. E assim fica para trás a idéia básica de fusão do amor romântico, que transforma os dois numa só pessoa.
E quando se perde o medo de ser sozinho, se percebe que isso não significa necessariamente solidão.
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Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 11 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda” e “O Livro do Amor”. Atende em consultório particular há 39 anos, realiza palestras por todo o Brasil e é consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

domingo, 2 de março de 2014

Alguém para ouvir

Às vezes, ser ouvido representa tudo
Essa foto fez sucesso em blogs e nas redes sociais. Foi tirada em Itabuna (BA), em frente a obras de um grande prédio comercial, o Jequitibá Trade Center, que ficará no estacionamento do Jequitibá Shopping, templo do consumo, do desfile de grifes e de ostentações - há quem ostente beleza, riqueza, simpatia etc, mesmo sem possuí-las.

Mas quem ouviria um morador de rua?

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Seja bem-vindo!

Seja bem-vindo. Este é um espaço para compartilhar histórias. Em mão-dupla. Publicaremos histórias, mas também queremos compartilhar a sua história. Mesmo que seja só para desabafar. Seus medos. Seus desejos. Secretos ou não. Bonitos ou "sujos". Sigilosamente. Pode ser para pedir ajuda.
Tudo será compartilhado com um profisional da área da Psicologia, que poderá, dentro dos limites do Código de Ética da profissão, segundo o requerimento do leitor/autor, fornecer ajuda, na forma de aconselhamento ou escuta especializada. Gratuitamente.
Se o leitor/autor preferir, pode receber por email indicação de onde buscar ajuda mais completa. Não precisa se identificar, mas é importante, para quem assim desejar, informar um email correto, mesmo que seja criado apenas para receber essa informação - o importante é que seja legítimo e ativo. Lembramos que os temas são livres, sem censura, mas aconselhamos que os relatos sejam escritos seguindo a linguagem padrão, sem termos chulos, xingamentos ou códigos promíscuos. O moderador se reserva o direito de editar e adaptar os textos que não observem os requisitos citados anteriormente.
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